Conservação de solo e água

Conservação de solo e água

Ao iniciar este texto, destaca-se esta reflexão: A terra é um bem que apenas tomamos emprestado d’aqueles que nos sucederão”, do Eng. Agr. Fernando Peteado Cardoso, empresário do setor de fertilizantes, que investiu parte de sua fortuna na Fundação Agrisus, dedicada a trabalhos de conservação de solo. Este ensinamento nos faz pensar em como estamos administrando os recursos naturais para as futuras gerações.

No final dos anos 80, em Dourados, no Mato Grosso do Sul, haviam duas estações do ano bem definidas, das águas e das secas e, também, com culturas que não eram comuns para os gaúchos. Uma delas era o arroz de sequeiro que foi responsável pela abertura de novas áreas de agricultura e pecuária. Sua implantação ocorria com a retirada da mata e o cerrado existente, enleirando, queimando e plantando o arroz de sequeiro, não havendo a necessidade de irrigar, pois chovia todo dia, no final da tarde. Após a colheita, era semeada a braquiária e formada a pastagem. Outra cultura era a do algodão, plantado em abril, final da estação das águas e colhido em agosto, no forte da estação das secas, pois o algodão tem perda total na colheita, quando chove.

Próximo aos anos 2000, houve uma mudança neste regime de chuvas, devido a retirada de boa parte das matas para o plantio de soja, milho e pastagem. Desta forma ocorreu um desequilíbrio ambiental, favorecendo os períodos de estiagem no verão e de chuvas no inverno, acabando com os plantios de arroz de sequeiro e de algodão. Neste período, um grupo de produtores e assistentes técnicos fundou o Grupo de Plantio na Palha, com apoio da Embrapa e da Empaer, o que mudou o cenário da agricultura no Estado.

Aqui, no Rio Grande do Sul, por volta de 2012, foi observado pelas instituições de ensino e pesquisa, a deterioração do Sistema Plantio Direto, que teve aqui, em anos atrás, a sua origem. Voltaram os problemas de erosões nas lavouras de modo geral, com a retirada de terraços e a implantação de lavouras morro acima e morro abaixo. Em decorrência disto, as perdas por secas, tornaram-se comuns.

Não podemos admitir que em um Estado que tem em média 1.622mm[i]¹ de precipitação pluviométrica por ano, numa avaliação de 50 anos, possa ocorrer perdas por secas. Algo estamos fazendo de errado.

É possível alterar este cenário? A solução parece óbvia. Dependemos exclusivamente da mudança de atitudes do ser humano!

Um dos ensinamentos que tivemos neste período, foi que, em aproximadamente a 1 ano e 6 meses, estamos vivendo uma pandemia global e que as atitudes individuais comprometeram o controle do vírus e levaram à morte de boa parte da população. Mudamos nossas atitudes pelo impacto da perda de parentes e amigos, mas quando é o solo e o ambiente que estão morrendo, parece que não nos afeta. Como com a prevenção contra o coronavírus, as atitudes de cuidado são básicas: higienizar as mãos com frequência, usar máscaras e evitar a aglomeração das pessoas. Mudanças de hábitos.

Assim pode ser também com os cuidados com o meio ambiente e a conservação do solo. Uma atitude simples, é manter a água da chuva onde ela cai, evitando o escorrimento superficial, favorecer a sua infiltração em profundidade e armazenar a água para uso em períodos secos. Auxilia, também, na conservação das estradas vicinais e na qualidade da água dos rios e lagos.

Para contribuir com esta ação, o Estado promulgou a lei que criou o Programa Estadual de Conservação de Solo e Água, em 2015. Com a participação da Embrapa Trigo, Emater-RS, Universidades e Associações de Engenheiros Agrônomos aconteceram muitos eventos para discutir e alertar sobre esta realidade, o que, a nosso ver, não surtiram efeito de continuidade. Como na pandemia, só haverá alteração neste cenário se todos participarem na execução das ações de mudança. Isto implica que aconteça o envolvimento de todos os atores do agronegócio e da população, de modo geral.

Na intenção de organizar estas ações está em processo de constituição a ACSA – Associação de Conservação de Solo e Água, onde estarão incluídos todos os interessados, não ocorrendo o protagonismo de uma única instituição, com os objetivos de:

– Promover cursos de atualização agronômica em agricultura conservacionista;

– Realizar dias de campo de conservação de solo e água, mostrando as técnicas;

– Incentivar a adoção das microbacias hidrográficas para avaliação dos recursos naturais;

– Estabelecer um sistema de comunicação com os vários segmentos da economia da região;

– Valorizar a imagem da conservação do solo e água no Rio Grande do Sul e

– Promover, incentivar e facilitar a participação de produtores rurais e ATER em eventos.

Talvez, desta forma, poderemos reparar os erros cometidos e garantir uma produção sustentável de alimentos e os recursos naturais para as futuras gerações.


[i] MATZENAUER, Ronaldo; MALUF, Jaime Ricardo Tavares; RADIN, Bernadete. Regime de chuvas e produção de grãos no Rio Grande do Sul: impacto das estiagens e relação com o fenômeno El Niño Oscilação Sul. Porto Alegre: Emater/RS-Ascar, 2020. 142 p. il. Color. E-book.

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