Relatório do Curso de Atualização Agronômica em Agricultura Conservacionista - Turma 6

A Sociedade de Agronomia do Rio Grande do Sul – SARGS, em parceria com o Departamento de Solos e o Programa de Pós-Graduação em Ciência do Solo da Universidade Federal de Santa Maria e com apoio da Syngenta, realizou o Curso de Atualização Agronômica em Agricultura Conservacionista, nas dependências do Departamento de Solos da UFSM, em Santa Maria, RS, nos dias 26 a 28 de junho de 2019. O curso teve carga horária de 20 horas. O objetivo foi demonstrar como os princípios conservacionistas podem ser melhor entendidos e adotados, considerando as características e fragilidades dos diferentes sistemas da metade Sul do RS, a fim de reduzir a degradação de solos melhorando a produtividade. Participaram 45 profissionais.

PALESTRAS

Capital humano x Tecnologia

Agricultura Conservacionista: conceitos, preceitos e fundamentos

Fragilidades e potenciais dos solos da região da metade Sul do RS

Diagnóstico e recomendações para a redução da compactação do solo e aumento da infiltração da água

Compactação e adensamento de solos manejados sob plantio direto

Adubar sem degradar

Atividade biológica, microbiologia e manejo da cobertura para o aumento da infiltração de água no solo

Coexistência: Associação Brasileira de Estudo das Abelhas

Manejo do solo e de plantas de cobertura

Manejo da água em sistemas agrícolas

LISTAS

Participantes

Presença: 26/06/201927/06/201928/06/2019

DIVULGAÇÃO

Cartaz Programação – Anúncio Jornal 22/06 – Anúncio Jornal 24/06Informativo SARGS

ENTREVISTAS

Ivo Lessa Jean MinellaJulia GomidesRoblein Coelho FilhoTaciara Heinen

GALERIA DE FOTOS

PROGRAMAÇÃO

Quarta-feira, 26 de junho de 2019

13h15  Apresentação da estratégia de trabalho

13h30  Capital humano x Tecnologia – Jorge Lemainski – Embrapa Trigo

14h30  Agricultura conservacionista – conceitos e preceitos – José Denardin – Embrapa Trigo

15h30  Intervalo – Café

16h      Fragilidades e potenciais dos solos da região da metade Sul do RS – Ricardo Dalmolin –  UFSM

17h      Diagnóstico, recomendações para a redução da compactação do solo e aumento da infiltração da água

Dalvan Reinert e Paulo Gubiani – UFSM

Quinta-feira, 27 de junho de 2019

8h       Compactação e adensamento de solos manejados sob plantio direto: origem, ocorrência, caracterização,

riscos, danos, solução e prevenção – José Denardin – Embrapa Trigo

9h        Adubar sem degradar – Leandro da Silva, Fábio Mallmann e Gustavo Brunetto – UFSM

10h       Intervalo – Café

10h30  Atividade biológica e manejo da cobertura para o aumento da infiltração de água no solo

             Rodrigo Jacques e Sandro Giacomini – UFSM

11h30  Coexistência:  Associação Brasileira de Estudo das Abelhas – Ana Assad – A.B.E.L.H.A.

13h30  Oficina pedologia: Identificação e interpretação dos solos a campo – Fabrício Pedron e

            Ricardo Schenato – UFSM

14h30  Oficina física do solo: Visualização da infiltração em diferentes manejos de cobertura – Dalvan Reinert e

             Paulo Gubiani – UFSM

15h30  Intervalo – Café

16h      Manejo do solo e de plantas de cobertura – Madalena Boeni – DDPA

17h      Manejo da água em sistemas agrícolas – Jean Minella – UFSM

Sexta-feira, 28 de junho de 2019

8h       Oficina de biologia do solo: Métodos de quantificação do efeito biológico e demonstração dos efeitos de

plantas de cobertura – Rodrigo Jacques, Zaida Antoniolli, Sandro Giacomini e Celso Aita – UFSM

9h       Oficina química e fertilidade do solo: Práticas de calagem e adubação no contexto da conservação do

solo – Leandro da Silva e Fábio Mallmann – UFSM

10h30  Oficina de conservação do solo: Visita na área da Madame – Jean Minella – UFSM

13h30  Oficina de conservação do solo: Técnicas para o controle de escoamento – Jean Minella – UFSM

14h30 Oficina de conservação do solo: Exercício prático de locação e dimensionamento de terraços

            Jean Minella – UFSM

15h30  Intervalo – Café

16h     Oficina de conservação do solo: Exercício prático de locação e dimensionamento de terraços

           Jean Minella – UFSM

17h     Avaliação e encerramento

 

DESCRIÇÃO DOS ASSUNTOS E ATIVIDADES ABORDADOS

 

PEDOLOGIA: Fragilidades e potenciais dos solos da região da metade Sul do RS

Conteúdo teórico:

O solo é um recurso natural muito frágil e pode ser degradado facilmente quando utilizado de forma inadequada. Este tipo de situação decorre da falta de conhecimento sobre o comportamento e potencial de uso dos solos. Portanto, quando nos preocupamos com a conservação dos solos, precisamos saber reconhecê-los no campo, identificar suas limitações para utilizá-los corretamente. Este conhecimento é obtido pela análise morfológica do perfil do solo e o seu levantamento na paisagem. Qualquer outro investimento deve estar embasado neste reconhecimento e interpretação, evitando o uso inadequado ou desperdício de recursos. Na etapa teórica objetiva-se: a) apresentar as principias rochas presentes na metade sul do estado e as principais unidades de solos em áreas arenosas e pedregosas da metade sul; b) demonstrar as limitações de uso dos solos arenosos e pedregosos/rasos; e c) apresentar as estratégias de identificação morfológica a campo.

Conteúdo prático:

O objetivo da oficina de pedologia é exercitar a identificação e interpretação dos solos, revendo os aspectos básicos da identificação dos solos e interpretação dos solos no campo. A oficina também apresentará as estratégias de avaliação de uma sequência de solos arenosos no campo.

FÍSICA DO SOLO: Diagnóstico e recomendações para a redução da compactação do solo e aumento da infiltração da água

Conteúdo teórico:

O processo, causa e consequências da compactação dos solos agrícolas serão abordados, assim como o processo da infiltração da água no solo. O tráfego de máquinas usadas para semear, aplicar defensivos e adubos, e colher grãos e biomassa, especialmente as automotrizes que são máquinas pesadas imprimem pressão de compactação em sistemas agrícolas.  Ao passo que em sistemas com inclusão de pecuária a compactação pode ser causada também pelo pisoteio animal.  A infiltração de água no solo é um processo complexo e dependente de vários outros processos ocorrentes na interface solo-vegetação-atmosfera, como quantidade e intensidade da precipitação, umidade inicial, precipitação efetiva, da quantidade de água retida pela cobertura viva de plantas, quantidade de água retida pela cobertura de resíduos vegetais, rugosidade, declividade… com dependência ainda no tempo e posição na paisagem. A taxa de infiltração atual que ocorre no solo será abordada considerando vários cenários e pode ser avaliada com técnicas de medição como simuladores de chuva, infiltrômetros do tipo duplo anel e permeâmetro de carga constante. Essas medições possibilitam discutir o potencial impacto causado na infiltração e no escoamento superficial por fatores pedogenéticos, pelo uso e manejo do solo e de plantas, bem como das mudanças climáticas, e se constituem noções básicas no entendimento da conservação do solo.

Conteúdo prático:

Será utilizado um experimento consolidado instalado na área experimental do Departamento de Solos da UFSM, Camobi, que possui 6 (seis) sistemas de cobertura de solo, com plantas perenes e anuais em parcelas isoladas por calha metálica em área com declividade de 5,5%.  Com um sistema de irrigação contínuo será aplicada uma chuva de 50 mm, iniciada antecipadamente à oficina, de maneira que no momento da oficina teremos o processo de escoamento visível em cada parcela. A verificação, no local, do escoamento superficial da água e conjectura da taxa de infiltração serão o objeto de constatação e discussão dos processos na oficina.  O estado de compactação de cada parcela será apresentado.

BIOLOGIA DO SOLO: Atividade biológica e manejo da cobertura para o aumento da infiltração de água no solo

Conteúdo teórico:

Inicialmente será feita uma apresentação sobre os micro, meso e macrorganismos do solo, estabelecendo uma relação entre o tamanho e os serviços ecossistêmicos por eles realizados. Posteriormente será dado ênfase ao papel das bactérias e fungos na agregação do solo, abordando principalmente a produção de agentes cimentantes e o papel das hifas de fungo na formação dos agregados. Nos próximos tópicos serão abordos os papéis das minhocas e dos besouros/corós na abertura de galerias e bioporos, com relato de estudos de caso que resultaram em aumento da infiltração de água no solo. Por fim, serão apresentadas as práticas agrícolas que devem ser adotados para aumentar a atividade biológica do solo, o que resultará no aumento da infiltração de água e redução da erosão.

Conteúdo prático:

No primeiro momento os participantes realizarão a amostragem de solo pelo método do TSBF para quantificação e conhecimento dos diferentes tipos de organismos no solo. A seguir será realizada a quantificação do número de minhocas por metro quadrado na lavoura pelo método da extração com solução de cebola. Também será feita a demonstração do método correto de amostragem de corós nas lavouras e a diferenciação das espécies pragas, que necessitam de controle, das espécies não-pragas, que não devem ser controladas, pois produzem bioporos e aumentam a infiltração de água no solo. Por fim, será demonstrado o efeito de plantas de cobertura do solo e o seu efeito na atividade biológica, bem como na dinâmica da matéria orgânica.

QUÍMICA FERTILIDADE DO SOLO: Práticas de calagem e adubação no contexto da conservação do solo – Adubar sem degradar

Conteúdo teórico:

Solos de textura arenosa, como aqueles encontrados nas regiões da Depressão Central e da Campanha do Rio Grande do Sul, apresentam fragilidades maiores em relação aos solos argilosos, conferindo-lhes particularidades em relação à degradação do solo. Essas fragilidades deveriam impactar sobre as tomadas de decisão de uso dos solos (culturas anuais ou perenes, de grãos, frutíferas, forrageiras, …) e de práticas de manejo das culturas visando a conservação do solo e da água. Nesse sentido, serão abordados temas relacionados às práticas e manejos da calagem e da adubação e os seus efeitos sobre a suscetibilidade do solo à erosão, bem como no potencial de transferência de nutrientes (e de contaminantes) para as águas superficiais e subsuperficiais (escoamento superficial e lixiviação). Buscar-se-á também discutir e relacionar a fertilidade do solo às demais áreas da ciência do solo na minimização dos processos de degradação do ambiente e a consequente e incessante busca pela conservação da qualidade do solo e da água, visando assim a sustentabilidade dos sistemas de produção agropecuários.

Conteúdo prático:

Serão discutidos diferentes cenários envolvendo a prática da calagem, especialmente nos momentos de implantação de culturas perenes e de sistemas conservacionistas de manejo de solo em culturas anuais. Esse é considerado o momento mais crítico à potencialização da suscetibilidade do solo à erosão, em função da necessidade de revolvimento do solo para que os corretivos da acidez sejam mais efetivos na elevação do pH do solo. Também serão abordados cenários considerando as especificidades de solos de diferentes capacidades de retenção de nutrientes com aspectos relacionados às doses de fertilizantes e a necessidade de parcelamento (antecipação ou não), além dos locais preferenciais de sua aplicação. Tais práticas apresentam efeito direto e importante sobre a intensidade de desagregação das partículas do solo em decorrência das práticas mecânicas, bem como sobre o potencial produtivo das culturas, que resulta na deposição de massa verde sobre o solo. Ainda, a aplicação de altas doses de fertilizantes em solos com baixa capacidade de cátions (e de ânions) pode ocasionar grandes transferências de nutrientes, em especial de nitrogênio, para as águas subsuperficiais, fenômeno este indesejável tanto do ponto de vista produtivo quanto ambiental.

 

CONSERVAÇÃO DO SOLO: Manejo da água para o controle do escoamento superficial e da erosão

Conteúdo teórico:

A partir da perspectiva que o potencial de uso e exploração dos recursos naturais depende de seu manejo adequado e conservação pretende-se explorar os princípios conservacionistas do solo demonstrando os processos que governam os fluxos de água, sedimentos e solutos no solo e na paisagem, bem como os seus fatores controladores. Na parte teórica veremos as condicionantes atuais da degradação do solo e da água nos sistemas agrícolas da metade sul, bem como explorar as estratégias e ferramentas voltadas para o controle do escoamento superficial e erosão.

Conteúdo prático:

Visualizar a campo estruturas de controle e manejo do escoamento superficial e controle da erosão (terraços em nível e com gradiente, e canais escoadouros). A partir da compreensão e visualização dos conceitos de manejo da água, realizaremos exercícios de dimensionamento e alocação de terraços e canais escoadouros para diferentes condições de interesse.

 

EMPRAPA: Compactação e adensamento de solos manejados sob plantio direto: origem, ocorrência, caracterização, riscos, danos, solução e prevenção

Conteúdo teórico:

A compactação do solo é de origem mecânica, sendo resultante do tráfego de máquinas e implementos agrícolas, animais e veículos na lavoura, o qual exerce pressão sobre o solo, com consequente aproximação das partículas do solo e redução da porosidade. O adensamento do solo, por sua vez, é de origem biológica e/ou química.

O efeito biológico resulta do aporte insuficiente de material orgânico ao solo. A adição de material orgânico ao solo em quantidade, qualidade e frequência aquém da demanda do solo, desestabiliza a estrutura do solo, fragiliza os agregados do solo e dispersa o solo, com consequente carreamento da fração argila, pela água de infiltração, para o interior do perfil do solo, obstruindo a porosidade e gerando adensamento. O efeito químico decorre, principalmente da calagem realizada na superfície de solos com baixo teor de matéria orgânica. A concentração de calcário em sítios junto à superfície do solo gera pH acima de 7,0 ou até mesmo superiores a 8,0, fato que aumenta a dispersão do solo e a consequente eluviação argila, produzindo adensamento do solo, à semelhança do processo de origem biológica. Esses processos estão cientificamente comprovados. Esses processos de degradação do solo têm estratificado o perfil do solo em três camadas: a primeira camada superficial, com estrutura granular solta, caracterizada como solo fértil (± 0-5 cm de profundidade); a segunda camada, com estrutura maciça, caracterizada como solo degradado (± 5-20 cm de profundidade); e a terceira camada, com estrutura natural inalterada, caracterizada como solo original (± a partir de 20 cm de profundidade). A camada de estrutura maciça reduz a intensidade dos fluxos de água, gases, raízes e nutrientes no perfil do solo, reprimindo a expressão da fertilidade do solo.

Os riscos e danos impostos pela compactação e/ou adensamento do solo aos sistemas agrícolas produtivos de espécies temporárias são numerosos, com influência sobre: armazenamento e disponibilidade de água; armazenamento e difusão de calor; permeabilidade ao ar e à água; infiltração de água no solo; resistência do solo à penetração; reação do solo (pH); disponibilidade de nutrientes; indisponibilidade de elementos tóxicos; ocorrência de erosão; déficit hídrico; imprecisão na interpretação dos resultados de análises de solo tradicionalmente realizadas para a avaliação dos indicadores químicos da fertilidade do solo; e fundamentalmente, comprometimento da produtividade da espécies cultivada. As soluções para mitigar e prevenir a compactação e/ou o adensamento do solo, a curto médio e longo prazos são apresentadas e discutidas.